Guarda municipal ressalta a importância de rever o “papel do homem” na sociedade
O ciclo de palestras do Novembro Azul do ICS terminou nesta terça-feira, com a apresentação do guarda municipal Marcos Araújo, que falou sobre “O Homem como Vítima da Violência”.
Ele começou apresentando números que mostram o impacto das várias formas de violência na mortalidade masculina. “As causas externas são a principal causa de mortes entre os homens. Dos cerca de 60 mil internamentos registrados por lesões em 2019, 82% foram de homens – 31% dos quais com idade entre 20 e 29 anos”, demonstrou.
Araújo mostrou outro levantamento do Atlas da Violência 2020 do IPEA, que demonstrou que em 2019 morreram no Paraná cinco vezes mais homens do que mulheres vítimas de acidentes de transporte – 2008 contra 428.
Ainda com base nos números do Atlas da Violência, o guarda destacou que, das 628,5 mil pessoas assassinadas no Brasil entre 2008 e 2018, 91,8% eram homens – 74,3% com escolaridade máxima de 7 anos, 77,1% vitimados por armas de fogo e 74% negros.
“Essa predominância dos homens entre as vítimas da violência se deve em grande parte à cultura patriarcal ainda arraigada na nossa sociedade”, ressaltou Araújo. “A cultura que encara qualquer problema de saúde como sinal de fragilidade, que é arredia ao tratamento médico, impõe referenciais de masculinidade associados à virilidade, à conquista e ao sucesso, traz fantasias de poder e onipotência, estimula a competitividade e o comportamento de risco, nega que o homem demonstre emoções, obriga que ele seja o provedor da família e se sinta humilhado quando é contestado por uma mulher em público.” E o contrário também é verdadeiro: “Homens gentis, sensíveis, emotivos, com frequência têm a masculinidade questionada”.
Não raro a necessidade de se encaixar nesse papel – e a frustração gerada por não atender a determinadas expectativas – leva a quadros de depressão, alcoolismo, dependência química, desempergo, problemas familiares e até ao suicídio”, enumerou. E qual a saída?
Segundo Marcos Araújo, a solução passa por renunciar a esse suposto papel masculino. “Vá ao médico, descanse quando for hora de descansar, pratique esportes, beba água, ria, durma o suficiente, conviva com quem você gosta, cuide de você. Não somos super-homens, e não vamos deixar de ser homens se demonstrarmos nossa vulnerabilidade. Porque o homem que acha que suporta qualquer coisa, que dá conta de tudo, acaba deixando a família desamparada com a sua ausência”, concluiu.