Talvez o nome de Joaquim José da Silva Xavier custe a lembrar, assim rapidamente. Já o apelido – que remetia à sua habilidade manual – faz parte de uma trajetória emblemática na história do Brasil: “Tiradentes”, o dentista mais famoso e reconhecido do país. Sua vida, marcada pela participação na Inconfidência Mineira, culminou em sua morte seguida de herói nacional, anos depois.
Embora sua fama histórica se deva principalmente à sua liderança na Inconfidência Mineira, o apelido “Tiradentes” surgiu justamente por sua habilidade em praticar a odontologia de forma rudimentar para a época. Ele era conhecido por extrair dentes e até mesmo confeccionar próteses simples, utilizando ossos de animais e arames.
Essa ligação com a odontologia é tão forte que Tiradentes é oficialmente o Patrono da Odontologia Brasileira. O dia 21 de abril, data de sua morte, é celebrado como o Dia Nacional da Odontologia.

Portanto, mesmo que sua importância histórica transcenda sua profissão, o apelido que o consagrou e sua posterior homenagem como patrono da odontologia o estabelecem como o dentista mais famoso da história do Brasil.
História
Nascido em 1746, na então Fazenda do Pombal, Minas Gerais, Tiradentes exerceu diversas atividades. Além de militar, chegando ao posto de alferes da cavalaria, dedicou-se à mineração e ao comércio. Contudo, foi a sua destreza em cuidar da saúde bucal que lhe rendeu o apelido pelo qual se tornou conhecido. Sem formação acadêmica formal, aprendeu a prática odontológica com um tio e logo ganhou fama por “tirar dentes” e até mesmo confeccionar próteses rudimentares, uma habilidade valiosa em uma época onde a higiene e os cuidados com a boca eram precários.
Apesar de suas ocupações, Tiradentes nutria insatisfações com a coroa portuguesa sobre a capitania de Minas Gerais. A crescente cobrança de impostos e a proibição da instalação de manufaturas na colônia geravam um clima de descontentamento entre a elite local. Dessa forma, iniciou o envolvimento ativo de Tiradentes na Inconfidência Mineira, um movimento que almejava a independência da região.
Com sua eloquência e carisma, Tiradentes se tornou um dos principais propagandistas da conspiração, buscando apoio e adeptos para a causa libertária. Suas ideias de liberdade e autonomia ressoavam entre alguns membros da elite intelectual e militar de Minas Gerais. No entanto, a conspiração foi delatada antes que pudesse ser posta em prática.
Em 1789, Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro, onde aguardou o julgamento junto aos demais inconfidentes. Durante o processo, assumiu a responsabilidade pela liderança do movimento, buscando eximir os outros envolvidos. Essa postura, mesmo que não tenha evitado sua condenação, contribuiu para a construção de sua imagem como mártir.
Em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a sentença foi cumprida. Tiradentes foi enforcado e, posteriormente, esquartejado. Sua cabeça foi exposta em Vila Rica, como um macabro aviso àqueles que ousassem desafiar o poder da metrópole. O restante de seu corpo foi espalhado por diferentes localidades.
Herói brasileiro
Inicialmente, a figura de Tiradentes foi mantida em relativa obscuridade pelas autoridades monárquicas. No entanto, com a Proclamação da República, em 1889, sua história foi resgatada e ele foi alçado ao patamar dos heróis nacionais. A imagem de um homem que se sacrificou pela liberdade da pátria, mesmo tendo exercido uma profissão considerada humilde como a de dentista, ecoou fortemente no imaginário popular. O dia de sua morte, 21 de abril, tornou-se feriado nacional, consolidando sua posição como um símbolo da luta pela independência e um dos patronos cívicos do Brasil.